Oitenta e cinco anos atrás, em 1924, dois ricos e prósperos estudantes universitários judeus, F. Nathan Leopold e Richard A. Loeb, motivados pela filosofia Nietzcheana e determinados a cometerem o "crime perfeito" assassinaram brutalmente em Chicago um menino de 14 anos - Bobby Franks. Lideres da B'nai B'rith em Mobile, Alabama, chocados escreveram ao secretário nacional da B'nai B'rith, Leon Lewis, manifestando interesse no caso, e perguntado qual seria a resposta desta organização judaica. A resposta, em uma palavra, era "Hillel. "Esta nova organização de universitários, cuja criação Lewis caracterizou como "quase providencial", doravante iria fornecer aos estudantes judeus precisamente o tipo de iniciação à vida comunal judaica que Leopold e Loeb nunca tiveram.
Sabiamente a B'nai B'rith adotou o Hillel, em 1925, e patrocinou a organização por quase 70 anos. Hillel, que neste verão comemora o seu 85º aniversário, teve inicio independentemente em 1923 na Universidade de Illinois – e tinha desde o início como objetivo a atração de estudantes universitários judeus assimilados. "Os estudantes na sua maioria já estavam cheios e cansados de ouvir sobre o glorioso passado do nosso povo" relatou em 1928 um executivo do Hillel. "O estudante universitário quer aconselhamento exato e preciso sobre a moralidade sexual, sobre a vida judaica nos lares, atitude para com a sua garota, etc. Se não conseguirmos dar-lhes estes conceitos, faze-los entender que todos os tipos de judeus são aceitos, que não classificamos os judeus ortodoxos ou reformistas, então teremos falhado.” Sob a direção de Abram Sachar, que mais tarde foi o presidente fundador da Brandeis University, o Hillel se expandiu crescendo para mais de 100 unidades em universidades por toda a América do Norte. Significativamente muitas destas unidades foram abertas durante os dias escuros da Grande Depressão quando (e também como agora) o ensino superior parecia para muitos judeus a alternativa mais sensata para o desemprego.
Como naqueles dias, os judeus enfrentaram significativa discriminação social nos campus universitários e o Hillel lhes forneceu refúgio, um lar longe do lar, e se esforçou para suprir suas necessidades de integração social, cultural e religiosa. Após a II Guerra Mundial, graças em parte a programa governamental, o número de judeus em universidades aumentou significativamente. No entanto, o interesse da comunidade judaica americana sobre a vida universitária diminuiu. Como o apoio da B'nai B'rith diminuiu, os profissionais do Hillel predestinadamente concentraram suas atenções sobre a minoria dos estudantes envolvidos com o judaísmo, porém para o restante dos estudantes o Hillel se tornou irrelevante.
Sem fundos e com grande passivo, o Hillel estava mal preparado para resistir à tempestade cultural e política da década de 1960. "Numa idade em que os estudantes protestam contra os sistemas estabelecidos ( ‘establishment’), o Hillel era o símbolo dos sistemas estabelecidos", se queixou o Rabino Eduardo Feld, que era o diretor do Hillel na Universidade de Illinois. O Rabino Irving Greenberg caracterizou a vida universitária americana como uma "zona de calamidade pública para o judaísmo, à lealdade judaica e para a identidade judaica". Em meados da década de 1970 o Hillel estava admitindo a sua derrota. "Não estamos fazendo um bom trabalho em alguns locais", confessou o seu diretor nacional, Alfred Jospe. "Continuamos a ter orçamentos absolutamente inadequados para programas e muitas vezes completamente inexistentes. Jospe acrescentou que com uma "proporção de um assistente para 2000 ou um para 3000 e até mesmo um para 5000 alunos", o Hillel está "cruelmente curto de fundos”. Com a nomeação em 1988 de Richard Joel como diretor internacional teve inicio o renascimento do moderno Hillel.
No decurso do seu mandato Joel refez, re-energizou e modificou a organização. Tirando partido das preocupações da comunidade sobre a" continuidade judaica" ele lembrou os líderes judeus que "a universidade é uma etapa chave para a continuidade judaica e um dos principais pontos definidores para o futuro judaico". Sob a sua liderança, o Hillel se tornou uma organização independente, atingiu o maior número de estudantes do que qualquer época no passado, e levantou somas de valores sem precedentes e, atualmente guiada pelo Presidente Wayne Firestone, o Hillel adotou uma nova declaração de propósitos e um planejamento estratégico com o compromisso da organização para "melhorar e intensificar as vidas dos estudantes judeus que estão se formando ou já se formaram, para que eles possam melhorar e enriquecer a vida do povo judeu e do mundo. "Através do Taglit com viagens à Israel, uma justiça social alternativa e iniciativas educacionais nas universidades, o Hillel esforça-se para infundir o significado judaico na vida dos estudantes mais afastados da vida judaica.
O Hillel retornou às suas raízes como uma organização comprometida com os que têm carência de uma educação judaica e ao mesmo tempo continuando a ser adequada aos estudantes mais empenhados com o judaísmo. O Hillel comemora o seu aniversário num momento em que o maior grupo de estudantes da história judaica americana - os filhos dos ‘baby boomers’ – estão chegando aos campus universitários. Neste mesmo tempo, as fontes de financiamento da comunidade judaica, atingida pela desaceleração econômica e pelo escândalo Madoff, estão diminuindo drasticamente. Quando as comunidades em todos os lugares reavaliam as suas prioridades, as necessidades dos estudantes universitários judeus precisam ser lembradas. Oitenta e cinco anos após o caso Leopold e Loeb, que trouxe à luz as necessidades dos estudantes universitários judeus para a comunidade judaica, a missão do Hillel torna-se mais urgente do que nunca.
Jonathan D. Sarna- é professor de História Judaica Americana na Universidade Brandels e autor do “American Judaism: A History”.
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