quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Depoimento de Shimon Peres, presidente de Israel, no Brasil




“Brasília é a capital do mundo novo, capital de esperança, e espero que o Oriente Médio siga seus passos. Assim como fez o Brasil com um mundo novo, que surja um Oriente Médio novo. O nosso sonho é o sonho de chegar à paz entre os povos, chegar a um mundo de paz. Um homem para outro não é inimigo. Um para o outro tem alternativa de ser hóspede ou anfitrião. Podemos caminhar juntos pelo mundo”.

“Talvez o Brasil seja o primeiro país do mundo que decidiu enfatizar as questões sociais, acima de considerações econômicas. O Brasil acredita que a economia deve ajudar a sociedade, não o contrário. O Brasil é o primeiro país que desconhece a discriminação racial. Gente das mais diversas origens vive unida. Acho que temos muito a aprender com o Brasil”.

“O Brasil não tem um território pequeno, sem água, sem petróleo. Talvez possamos dizer como nós avançamos. Não vivemos do nosso tamanho, mas do nosso cérebro. Pode interessar ao Brasil saber como desenvolvemos a agricultura sem terra e água. Somos o primeiro país do mundo que tem uma agricultura baseada na alta tecnologia”.

“A diplomacia, assim como a economia, está ficando cada vez mais global. Nenhum país pode mais viver isolado. Mas ainda não se pensa na paz como uma questão global. Para fazer a paz no Oriente Médio é preciso reduzir as ameaças em um plano global e aumentar o apoio a soluções pacíficas.Gostaria muito de ver o Brasil participando”.

“Vou visitar o Brasil, e não debater com Ahmadinejad. Acredito que Lula seja um homem com valores, que condenaria uma tentativa de destruir um outro país, de introduzir o terror, como houve este caso agora do navio abordado pela Marinha israelense cheio de armas, vindas do Irã para abastecer terroristas. Mas eu, particularmente, não vou abordar esse assunto no Brasil. Não acho que seja apropriado ir a um país e falar de outro”.

“Os iranianos não são nossos inimigos. Os árabes não são nossos inimigos. Os muçulmanos não são nossos inimigos. Nossos inimigos são a guerra, a ameaça, o terror, a destruição. Sobre o presidente iraniano, todo mundo sabe há anos qual a sua posição. Acredito que não se pode esperar muita civilidade de alguém que prega a destruição de Israel, que nega o Holocausto e que ele fornece armas para o terror. Mas não gostaria que nossa atitude em relação ao governo do Brasil criasse a impressão de que estamos brigando com o o povo iraniano”.

“Eu gosto de algumas comentários de Hugo Chávez, como que não se deve cantar no chuveiro (risos). O que ele quer dizer, é que não devemos gastar água. Não tenho nada contra isso. O que fez Israel à Venezuela? Tínhamos uma tradição de excelentes relações com a Venezuela. O povo venezuelano é um grande povo. Eu me pergunto como se pode injetar extremismo nas veias do povo venezuelano, mas esse é o efeito. Ele é um líder muito particular, que governa o país pela televisão”.

“Espero que o presidente Lula encontre interesse e tempo para ir a Israel. Ele tem sua agenda e suas prioridades, não tenho que lhe dar lições. Nós o consideramos um amigo. Nós nos conhecemos há muito tempo. Começamos na mesma trilha socialista, então posso dizer que lembro dele "desde a "infância". Ele tem seu próprio jeito de priorizar as coisas. Claramente eu devo convidá-lo”.

“Israel não tem intenção de monopolizar o problema do Irã. Esse é um problema para o mundo. Não colocaria a opção militar acima de tudo. Tudo que puder ser feito pacífica, política, econômica e psicologicamente deve ser feito. Já conversei com muitos líderes mundiais e todos me disseram estar empenhados em evitar uma bomba nuclear iraniana”.

“A vida de uma criança árabe é tão importante para mim quanto a de qualquer criança. No Centro Peres pela Paz recebemos crianças palestinas doentes ou feridas e nos propusemos a curar todas. Nos últimos seis anos, já curamos mais de 6 mil crianças palestinas e as devolvemos a suas mães. Isso quer dizer que odiamos crianças, que queremos vê-las morrer? Não damos publicidade a isso, porque não queremos que digam que é pela publicidade. Mas continua todo ano, e tem um custo, mas não importa. Não fazemos isso para receber aplausos. Não precisamos de aplausos. Tanto quanto não precisamos de julgamentos. Nenhum país do mundo foi atacado nove vezes em 61 anos de existência. Onde estavam os defensores dos direitos humanos quando fomos atacados pelo Hamas? Alguém pediu que parassem? Alguém tentou pará-los? Por que o mundo silenciou sobre isso? O fato de estarmos sozinhos é muito incômodo. Mas não nos tira a base moral”.

“Sabemos que há um problema de imagem com todo país que enfrenta o terrorismo. Porque os atos terroristas não são fotografados. Quando um terrorista entra e mata alguém, ele não leva jornalistas consigo. Você não vê. Quando explodem um ônibus, não levam câmeras. O que se fotografa é a reação, não a iniciativa. Por isso sempre se chega à conclusão errada: "Por que Israel está bombardeando?" Somos malucos? Acordamos de manhã e soltamos uma bomba? As razões disso não são mostradas. Então, concordo que há um problema de imagem, mas Israel não é uma empresa de relações públicas”.

“Israel está pronto para a paz. Devolvemos a terra, devolvemos a água... agora queremos ter certeza de que teremos paz e segurança. É uma reivindicação legítima. Não tenho duas mensagens, apenas uma”.

"Israel reconhece o direito dos palestinos de terem um território e está pronto para fazer concessões difíceis".

"Não atacamos ninguém, nem invadimos nenhum outro país. Apenas nos defendemos. E quando nos defendemos ganhamos. Mas não deixamos de procurar a Paz. Achamos que a conquista da Paz é mais importante do que a conquista de territórios. Não queremos derramamento de sangue, po isto vamos entrar em uma negociação direta, sem condições ou adiamentos, com o presidente Assad, da Síria, assim como começamos cm os palestinos".

“Pessoalmente, considero Obama um amigo de Israel. Acho que cada vez mais pessoas vão se dar conta disso. Ele mereceu o Prêmio Nobel. Ele introduziu uma era de esperança e otimismo. É um feito político, e ele o alcançou brilhantemente no começo. Agora, está enfrentando controvérsias que existem”.

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