segunda-feira, 20 de julho de 2009





Auschwitz 2009

Nos trilhos dos trens
Do caminho de Auschwitz
As trevas, os trincos
Nos campos
As rezas, os planos
Perdidos.
No crepitar das costelas
Das próteses
Dos corpos
Da flor cancerígena
Em metástase.

Do caminho de Auschwitz
O néctar cinza
E amargo
Da chaminé.
O éter
O féretro
O torto
O dia
Que já nasce
Morto.

Cemitério de sonhos
Crematório das almas
Cartas escritas
Pela metade.
Onde Deus chorava
De luto, pela humanidade?
Pureza da pele,
Da prole, da raça.
Mataram o homem
Sobrou a carcaça.

O grito
É agudo e magro.
Na fila
No leito
No seio vazio
No leite da prenhe
No ventre da terra
Derrama a agonia.

Pétala de pólvora
Atrás da orelha
O verão é frio
A neve é vermelha
De sangue
De lágrimas
O trabalho liberta
A luta
O luto
A força
A forca.
A demência.
O trabalho liberta
A insana fragrância
Da vida retorcida
Como ferro.
Como pulmões
Em câmaras de gás.

Do caminho de Auschwitz
De casa aos fornos
Do gueto às valas
Do homem aos bichos
A trajetória da tragédia.

Do caminho
Na fronte das lápides
Na boca dos vivos
Nas honras
E nos memoriais, Auschwitz.
Nunca mais.

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