segunda-feira, 13 de julho de 2009





Depoimento de Nathan Klabin

Segunda feira, 13 de Julho
Como falar sobre a maior dor do mundo? Com que palavras descrever o que não tem sentido? Como dividir em pedaços para colocar conseguir digerir algo que não tem tamanho? E se um dia tivermos respostas para isso tudo é porque algo de errado aconteceu e então devemos revisar nossos métodos?

Em primeiro lugar, a maior dor do mundo é sempre a dor que atinge a nós mesmos. Seja ela qual for. Imediatamente, a dor que importa é a que sentimos. E todos nós sentimos dor o tempo todo. Podemos empatizar com a dor alheia, mas nunca senti-la. O que isso quer dizer? O holocausto é nossa dor? A dor dos homossexuais iranianos é deles? A dor dos indigentes latino-americanos é deles? Eu diria que não, afinal uma ameaça a liberdade em qualquer lugar é uma ameaça a liberdade em todo lugar. E muito embora, a liberdade e a felicidade sejam possíveis, o preço é a constante vigilância. Mas a dor que um sente, é só sua. Mas achar que a dor é só sua, é um ato de exclusão perigoso, ou em outras palavras, uma ameaça a liberdade e a felicidade.

Da mesma forma que essa é uma busca constante, pois nunca estamos integralmente satisfeitos, nunca estamos integralmente infelizes. Primo Levi nos ensina que existem Lagers dentro do Lager. E que também que a vida é mais forte e por isso ele sobreviveu. Os que morreram no Lager, ou antes, eram menores? Lógico que não! A máquina nazista de desumanizar era veloz e impiedosa. Mas relembrar a destruição como algo homogêneo, é um ato injusto com as vitimas. Por isso precisamos estudar o holocausto, pois nem mesmo um evento tão absolutamente repugnante como esse, pode ser entendido com poucas palavras e generalismos. Mas hoje, a memória essa memória mais complexa a qual louvo está viva.

É impossível vencer o espírito humano. No meu caso, eu encontro esse espirito através da minha condição de judeu. Por isso eu digo que o holocausto não foi uma tragédia judaica, mas uma tragédia humana. E por isso, eu como judeu, tenho a responsabilidade de lembrar a dor, para que eu possa encontrar a liberdade. Sou vigilante com a dor, por que é meu dever como judeu para garantir que essa seja uma ameaça a menos em todos os outros lugares. Quero que o meu judaísmo seja minha forma de encontrar aos outros e não de excluí-los.



Ontem fomos conhecer o que restou do Guetto de Varsóvia. Como era shabbat não pegamos o nosso ônibus. Fizemos uma longa caminhada que rendeu cansaço para todos. Ao final do dia as pernas doíam. Estou dizendo isso e sei que o leitor entende o que digo. Você sabe de que dor estou falando. E se eu disser que sinto saudades da minha família você entende o que estou dizendo. Mas como vamos explicar para um faminto o que é fome e cansaço? Ou como vamos explicar o que é saudade para alguém que perdeu todos? As palavras são vivas e mudam de idéia o tempo todo. O “melhor” escritor do absurdo, Franz Kafka, contou sobre um sujeito que um dia acordou sendo um inseto. Sobre um homem que é condenado por um crime que não sabe qual é. Sobre um viajante que busca o caminho do castelo mas nunca consegue chegar lá. Você consegue entender esses homens? Absurdamente talvez Kafka tenha entendido o Lager antes mesmo de ele ter acontecido.

Precisamos nos comunicar o tempo todo. Esse é o princípio da coexistência. E para nos comunicarmos precisamos saber como queremos ser ouvidos. E para sabermos isso, primeiro precisamos ouvir. Mas a maior dor do mundo não tem como ser comunicada. Dividi-la em partes para comunicá-la não faz sentido, pois seu tamanho nunca diminui. Ela não tem significado por que é o absurdo. Então como podemos nos entender? Como podemos ser vigilantes da nossa liberdade? Para responder a dor que não tem tamanho precisamos lembrar que a humanidade também não tem tamanho. Mas a humanidade não é uma resposta, e sim uma busca constante. E se você não consegue entender o que foi o holocausto, mesmo assim é preciso tentar.

Essas respostas não o são. São perguntas para novas respostas, mas que novamente também não o são. E a única resposta certa é de que quando pararmos de perguntar o porquê das coisas, estaremos onde não queremos.

Am Israel Chai Vekaiam

Nathan Klabin

3 comentários:

Unknown disse...

Sem duvida este é o melhor momento de ser aprender e se identificar, a cada depoimento temos certeza da magnitude do momento, indescritível!!
Mazal Tov!!
Bjsssssssssssss
Sandra Guido
Hillel Rio

Anônimo disse...

DEMAIIIS ! Parabens pelos posts, da pra ter um gostinho da viagem acompanhando o blog

beijoss

Marcela

Anônimo disse...

escrevam maiss !!


jo